A BRIGADA PARAQUEDISTA

O monstro com suas entranhas abertas devora aqueles homens de verde. Mas não são homens comuns; os grandes fardos nas costas evidenciavam os paraquedas e provisões para resistir ao cerco do inimigo. Não permanecerão no interior do Hércules C-130 por muito tempo.

O paraquedista precursor se agacha na rampa de saída, confere a rota e “cheira o vento” para informar o piloto e corrigir o voo se necessário. O mestre do salto grita as ordens para o grupo:

– Preparar… Levantar… Enganchar!

– Verificar equipamento!

Cada soldado verifica o equipamento do seu companheiro logo à frente e confirma a checagem. Em seguida o mestre grita:

– À porta!

O precursor, primeiro da fila, se concentra nas lâmpadas de aviso acionadas pelo piloto. Quando a luz vermelha se apaga e a verde se acende, o precursor grita o comando para saltar:

– Já!

E salta ao vazio, seguido por todos do grupo.

Este tipo de paraquedas está preso a um gancho que, amarrado a um cabo resistente, irá abrir o paraquedas com a tensão no cabo resultante do salto do paraquedista em relação ao avião. Este tipo de paraquedas permite, assim, saltos de baixa altura, já que o velame é aberto quase instantaneamente.

O paraquedas do tipo T-10 é muito pouco manobrável e é utilizado especialmente para a largada dos militares em alvos que não requerem precisão no pouso.

Assim que a cobertura de tecido verde se abre sobre a cabeça, o valente soldado comunica o sucesso da abertura com um grito de alívio:

– Velame!

A próxima fase é o contato com o solo que foi incansavelmente treinado para evitar lesões na aterragem. Deste momento em diante o soldado vai cumprir sua verdadeira missão de combate e honrar sua fama de “Eterno herói”.

O início

Durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos criaram uma divisão do exército que tinha por missão penetrar em território inimigo chegando pelo ar. Os aerotransportados; Airborne em inglês. Foram muito bem-sucedidos contando com vitórias importantes e decisivas. Em 1945, uma tropa semelhante foi criada no Brasil. Atualmente chamada de Brigada de Infantaria Paraquedista, a tropa é inteiramente formada por voluntários focados no cumprimento da missão. Os treinamentos duros forjam um efetivo com notável resistência física, coragem e agressividade. A camaradagem que se forma entre seus componentes gera um espírito de equipe muito importante para quem tem a missão de penetrar já cercado pelo inimigo. Não só nas atitudes é que se evidencia um paraquedista da tropa, o “boot” marrom, a boina bordô e o brevê prateado com as asas tornam estes soldados inconfundíveis onde estiverem.

Agachamentos, flexões de braço e marcha forçada, são as constantes do treinamento. Não se espera menos do que uma grande resistência ao desgaste físico que uma missão paraquedista requer. A brigada deve estar preparada para atuar em no máximo 48 horas em qualquer parte do território, seja em ambiente de selva, caatinga, montanha e pantanal, e permanecer sem apoio logístico por até 72 horas. Após o repasse do território a outra unidade da Força Terrestre, a Brigada Paraquedista é lançada novamente atrás das linhas inimigas para abrir caminho às outras tropas aliadas.

A seleção rigorosa começa quando seis mil voluntários, de 18 e 19 anos, fazem seu alistamento militar na brigada. Pelo menos cinco mil serão reprovados pelo exame médico-dentário, entrevistas sócio psicológicas e o primeiro exame físico. Poucos conseguem subir uma corda de seis metros usando apenas os braços, correr 3,2 mil metros em doze minutos e fazer inúmeros saltos da torre, flexões e barras no mesmo dia.

Durante as primeiras semanas, o recruta recebe a instrução militar comum, aprende a marchar, fazer ordem unida e as outras atividades normais de caserna. Após outro difícil teste físico, ele ingressa no centro de instruções onde tentará se qualificar para o primeiro salto e passar por mais duas semanas de intensa preparação. Nesse período, muitos soldados não resistem aos rigores dos exercícios e desistem formalmente.

A pressão psicológica imposta pelos instrutores ajuda a decisão extrema de participar do ritual público e humilhante de tocar o sino da desistência. Caso o recruta suporte a provação das quatro semanas estará apto para o momento mais importante do curso: o primeiro salto real a partir de uma aeronave a 1000 pés (300 metros) do solo.

Dos quatro saltos obrigatórios para o brevê, o último é o mais exigente. Simula o assalto a uma força inimiga, seguida de uma marcha de combate que pode chegar a até 15 quilômetros totalmente equipado. Ao todo, equipamento e armamento, chega a pesar 60 quilos.

Com a progressão do curso, outras especialidades formam este soldado especial: mestre de salto; precursor; mestre de salto livre e DOMPSA, o dobrador e especialista em equipamento de paraquedistas do Batalhão de Dobragem, Manutenção de Paraquedas e Suprimento pelo Ar.

Formada por 15 quartéis com um total de cinco mil homens, a brigada dos soldados voadores da Vila Militar no Rio de Janeiro é composta por homens e mulheres especiais.

Na entrada do primeiro batalhão, uma placa sintetiza a política do grupo: “Tropa para homens de coragem e determinação.” O rigor se justifica uma vez que, em casos de necessidade, os paraquedistas são a primeira força a ser empregada e seus integrantes devem estar prontos para encarar a frente de combate em no máximo 48 horas.

De três a quatro vezes ao ano, a brigada é testada quanto à sua capacidade de mobilização. Sem nenhum aviso prévio, os comandantes ativam uma série de ligações telefônicas para encontrar todos os soldados, onde estiverem, para cumprir a missão.

Brasil, acima de tudo!

O ano de 1968 viu o nascimento do terrorismo em solo nacional. Grupos da esquerda armada realizaram ataques em várias localidades fazendo vítimas diversos brasileiros e até mesmo cidadãos de outros países, como o capitão do exército americano Charles Chandler e o major alemão Edward Otto. Estas ações levaram o presidente Costa e Silva a decretar o Ato Institucional número 5, marcando oficialmente o estado de conflito interno no país.

Contrários ao radicalismo das medidas inconstitucionais, um grupo de oficiais paraquedistas passou a se reunir semanalmente para discutir a situação política sob uma ótica nacionalista e não xenofóbica. A Centelha Nativista, como era chamado o grupo, teria por visão ressuscitar os valores de amor ao Brasil e de criar meios que reforçassem a identidade nacional e evitar a polarização do povo pela ideologia da velha luta de classes pregada pelo marxismo.

A carta de princípios demonstra o espírito nacionalista deste grupo:

  • Considerar o bem-estar comum como princípio básico de todo desenvolvimento.
  • Fazer da ordem, da disciplina e do trabalho honesto a alavanca do progresso da Nação.
  • Dar oportunidade a todos e promover os mais capazes.
  • Fazer da educação ética e cívica instrumento para a formação do povo e da boa consciência nacional.
  • Promover o desenvolvimento, garantindo a soberania nacional.
  • Incentivar o culto às tradições e o respeito à família, como base da nossa sociedade.
  • Manter a harmonia de classes através da distribuição de renda.
  • Impor obrigações recíprocas entre governantes e governados, através das leis, para que as responsabilidades sejam equitativamente distribuídas.
  • Estimular a iniciativa privada, promovendo os valores permanentes da nacionalidade, expressos nos objetivos nacionais vitais.
  • Ser rigoroso e inflexível na punição dos crimes contra o povo, o Estado e a Nação.
  • Embora o grupo tenha sido perseguido pelos militares “linha-dura”, o alto valor de seus participantes influiu na eleição do General Emílio Garrastazu Médici para presidente. A equivocada política de censura impediu a história de registrar que Médici era contra o AI-5 e não foi um carrasco como se propaga hoje em dia. O resto é uma história mal contada que a partir de agora passará a ser escrita com as correções que lhe fazem justiça.

A Centelha não venceu a batalha interna contra o radicalismo mas cunhou para sempre o seu lema criado pelo Capitão José Aurélio Valporto de Sá, que ainda faz parte do coração da Brigada Paraquedista: Brasil, acima de tudo!

Além do primeiro oficial paraquedista que dá nome ao centro de instrução, o General Penha Brasil, outros importantes personagens da nossa história recente também ostentam o brevet de paraquedista militar: Capitão da reserva Jair Messias Bolsonaro, atual presidente eleito da República; General Augusto Heleno, General Antonio Hamilton Mourão, atual vice-presidente eleito da República; General Luís Carlos Gomes Mattos, ministro do Supremo Tribunal Militar, entre outros grandes nomes que orgulham a nação.

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